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O que é materialismo nesse materialismo mágico? O grau zero dessa (em-)comunidade mágica é a matéria. As coisas são-em-comum, antes de mais nada, como coisas materiais que compartilham um mundo em que elas se encontram, se tocam e se determinam mutuamente. A diferença estrutural de Saussure faz-se carne e se torna “hiperestrutural”. Que fique claro, o toque e o encontro não são necessariamente plácidos ou naturalmente harmoniosos. Há também o “choque-intrusão” e o devorar –– um canibalismo que não se diz mais antropo-fagia porque o humano é apenas uma entre várias coisas que (se) tocam, encontram e comem. Mas tampouco o devorar ou ser devorado é necessariamente mau. O materialismo do encontro de Althusser encontra Oswald de Andrade, mas também a absoluta contemporaneidade da “magia” animista ameríndia: a abertura às agências não-humanas. “Via de mão dupla: afetar e ser afetado, comer e ser comido.” Onto-fagia generalizada: you are what you eat, and what eats you.
Rodrigo Nunes
É mesmo à mesa de Oswald de Andrade e de Jean-Luc Nancy que o Carlos teria de se sentar, como o faz. Pouco se falou na filosofia, no entanto, dessa outra forma de comensalidade que dispensa talheres. Há os que vão ler isso como um delírio poético, e agradeço profundamente ao Carlos por nos liberar dessa chantagem a partir do que ele chama, em uma fórmula límpida, de materialismo mágico. […] a generosidade da ontofagia consiste nessa aliança das diferentes práticas digestivas e dos tempos da mastigação. Ou seja,
a generosidade da amizade consiste em esperar o outro acabar de mastigar. O livro do Carlos/ Coelho é um livro de receitas sem medidas precisas. HIPÓTESE: o único livro possível para a filosofia no momento, no momento do fim do mundo que dura, pelo menos quinhentos anos, é um manual de ética escrito por desvairados. Ei-lo aqui, ou ao menos anuncia-se sua chegada com um aperitivo. Os pragmatistas se riem disso. Os metafísicos se riem disso, ou seja,
eles não sabem que serão os próximos a serem servidos com uma maçã na boca e lambuzados de manteiga.
Comme il faut.
Fabiano Lemos
Editora: Ape'Ku Editora
ISBN: 978-65-86657-38-8
Ano de edição: 2021
Distribuidora: Ape'Ku Editora
Número de páginas: 190
Formato do livro: 16 x 23 cm
Número da edição: 1
2ª impressão
Sobre o autor: Carlos Cardozo Coelho é militante antiespecista, comunista cosmológico, professor e pós-doutor na Pós-graduação em Filosofia da UERJ, doutor em Filosofia pela PUC-Rio com estágio doutoral na Universidade de Paris X, mestre e licenciado pela UFRJ. Sua pesquisa e sua luta são inseparáveis: construir novas formas de pensar o comum para além de princípios antrópicos e dos mecanismos coloniais construídos pelo “Ocidente” através de uma bruxaria conceitual e descolonial.
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